Postado por

18
jul
2020

E mais um dia na semana acordei tarde e cansada, como se todo sono do mundo não fosse suficiente para reparar o meu corpo. O modo soneca do despertador foi diariamente ativado – mais do que o habitual – e até mesmo subitamente e “inconscientemente” desligado em alguns dos dias.  A sensação ao acordar, nessas circunstâncias, é de susto e de interminável preguiça. Uma vez mais, depois de dias consecutivos, o planejamento de afazeres precisou ser reprogramado e flexibilizado. Confesso que minha reação ao acordar foi de completo arrependimento e culpa, com a sensação de que mais uma vez parte do dia já se fora sem que eu pudesse aproveitar como eu gostaria. Mas logo depois veio a lembrança: eu estou menstruada!

É incrível como costumamos nos exigir como se tivéssemos capacidade de produção contínua e linear. Assim, muitas vezes acabamos nos impondo uma rotina fria, rígida e desconectada… Mas, definitivamente, eu não sou uma máquina! Sou movida a energia vital, emoções, hormônios, humores e muito mais… Sujeita a interferências internas e externas. A quem atende essa programação de produtividade? Nossa programação geralmente é criada de forma tirana pela nossa cabeça, sem levar em consideração a capacidade do restante do corpo e muito menos todas as interferências possíveis. Lógico que não tratando aqui de compromissos dos quais não podemos esquivar, como trabalho e outros tantos. Mas, a verdade é que além desses inventamos tantos outros que muitas vezes não sobra tempo para simplesmente parar e, assim, acabamos sendo escravizados por um ideal criado pela própria mente.

E, convenhamos, muitas vezes o que a gente precisa mesmo é só de um tempinho sem a pressão de “ter que”. Eu mesma vivo tendo que lidar com a frustração de não cumprir as muitas atividades programadas, me sentindo mal, me culpando e me sentindo fracassada por isso (devo confessar que minhas programações são geralmente um tanto fantasiosas e inalcançáveis – rs). Além de precisar colocar um pouco mais o pé no chão nas programações (no meu caso), sinto que aceitar e entender o ritmo do meu corpo é algo fundamental para entender quais são minhas reais necessidades e me permitir ser flexível para atender também as demandas do meu corpo. Afinal, somos um ser integral… Mente e corpo devem estar conectados.

No período menstrual, por exemplo, eu percebo que tenho muito menos vitalidade, muito mais preguiça, mais sensibilidade e mais vontade de comer doce. Também percebo que minha capacidade intelectual e de concentração, principalmente, ficam bem prejudicadas. É um período de necessidade intensa de recolhimento e silêncio e me arrisco a dizer que fico mais inspirada, artisticamente falando. É como se fosse um período slow motion. Conhecer e aceitar tudo isso como um momento cíclico da vida é tão encantador que me fez romper com o piloto automático de cobrança e culpa e me acolher, entendendo que nessa semana de sono enlouquecido o que eu precisava mesmo era apenas dormir mais… E só isso… Até as dores do período menstrual passam a ser acolhidas, porque aceitamos que fazem parte de um processo e que logo vão passar.

Assim como a lua interfere em toda a natureza (inclusive em nós, que somos natureza!), nós – mulheres – temos uma lua interna que nos guia pelos nossos próprios ciclos. Essa lua interna está em contínuo movimento, interferindo em tudo o que somos e nos dando um precioso mapa rumo ao autoconhecimento. Ter intimidade com nossos ciclos nos conecta com a nossa natureza e o ciclo menstrual proporciona isso. Nosso sangue menstrual não é desnecessário, não é um fardo e nem é sujo, como costumamos ser ensinadas por aí, em discursos enviesados que ouvimos ao longo da vida. Tudo depende da relação que se tem com ele e com nossa energia feminina. O sangue menstrual é forte, rico e um símbolo sagrado da nossa natureza feminina. É a materialização de parte de um ciclo.

Nossos ciclos nos permitem vivenciar diferentes faces do feminino que habita em nós. Eles nos ensinam a ativar nosso poder transformador, fazendo criar, fazendo nascer, cuidando, nutrindo, amadurecendo, mas também sabendo a hora de fazer morrer, transformar e fazer renascer.

A lua – e seus ciclos – é uma poderosa representação do feminino e tem uma relação muito íntima com o ciclo menstrual, fenômeno tipicamente feminino. Ambos guardam poderosa relação simbólica com o universo feminino e conectam as mulheres à sua força ancestral e instintiva feminina. De acordo com saberes ancestrais, no período menstrual nossos canais espirituais, assim como nosso inconsciente, estão mais abertos, o que propicia excelentes momentos de meditação e conexão espiritual.

Sem dúvida, saber de seus ciclos é mais uma via de autoconhecimento e conexão consigo mesma. Sinto-me apenas começando a me aventurar nesse mundo de conhecer cada vez mais sobre meus ciclos e quem sou eu em cada fase. E uma das coisas que me ajudou muito a me conectar fortemente com meu sangue menstrual foi abandonar os absorventes e passar a usar coletor menstrual. E, de uma forma que nem sei como explicar, isso fez eu me conectar profundamente com meu próprio sangue e viver mais intensamente meus ciclos. Mas isso seria papo para outro post..

E, quer saber? Eu adoro ser cíclica e adoro quando minha menstruação vem e marca tão claramente uma fase linda de todo o ciclo, uma fase de deixar ir e se renovar! Por isso, tive a inspiração de fazer uma representação da lua associada ao ciclo feminino. Uma lua vermelha, repleta de sangue, marcando bem a passagem de uma fase de um ciclo. Ciclo este que se repete, mas sempre ensina algo de novo.

Lua vermelha de sangue

Arte realizada em aquarela

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