Postado por

30
set
2019

Aprendendo desenho a lápis de cor

Rosto em lápis de cor

Acho impressionante e muito elegante o desenho em grafite. É surpreendente como apenas uma cor distribuída em diversas tonalidades pode gerar uma figura tão complexa, real, profunda e tocante. O lápis de cor, no entanto, não fica para trás, ele dá vida a qualquer arte. Foi uma grande surpresa! Com apenas alguns lápis de cor podemos gerar uma infinidade de cores e tonalidades. Bem diferente das simples pinturas escolares, é um trabalho extremamente complexo e bem mais trabalhoso. É uma verdadeira alquimia de cores… Vida em cores…

Após uma explanação básica sobre as cores e alguns exercícios simples, comecei por partes. Primeiro olhos femininos, depois olhos masculinos, depois uma boca e um nariz… Cada pedacinho é um mundo de complexidade… Uma pequena amostra de papel leva muitas cores. E quem diria que em um cabelo loiro não usamos amarelo e, mais surpreendente ainda, dentre as várias cores usadas, o azul é uma delas???

A missão seguinte foi o desenho de um rosto feminino como referência. É interessante como sempre rola aquele choque inicial, momento em que fico atrapalhada sem saber o que fazer, como fazer, por onde começar e parece que, por alguns instantes, simplesmente esqueço tudo o que já aprendi. Chamo isso de choque da folha em branco. É um misto de resistência e insegurança, sempre presente nos traços iniciais, e um peso pela sensação de responsabilidade. Às vezes fico me perguntando se a maioria das pessoas sentem isso também… Rs.

Desafio do desenho: fixação nos detalhes

Esbocei o rosto todo no lápis e comecei dedicando o colorido pelos olhos. Obviamente, quando nos dedicamos às partes elas ganham mais detalhes e vão sendo aperfeiçoadas. O problema é que eu “empaquei” no olho, queria fazê-lo em todas as suas cores e detalhes, como se fosse possível fazer um desenho de forma tão fragmentada assim. Não, não é. Foi quando meu professor notou meu apego e insistência nos olhos, me deu um toque e segui em frente.

De fato, o desenho é um todo harmônico e não uma mera soma de partes. Por maior atenção que seja dada a uma parte específica, existe um limite de evolução dessa parte que nos obriga a dar atenção aos outros aspectos do todo até que possamos dar continuidade à evolução dessa parte novamente. E assim funciona com cada parte que forma o todo. Nenhuma parte fica pronta sozinha e cada uma delas depende da evolução das demais para que o conjunto possa funcionar, fazer sentido e permitir maior aprimoramento de cada parte e do todo. E por aí vai… Camada por camada, avançando cada fase.

Primeiro a gente esboça as linhas estruturais, depois esboça as cores de cada pedaço e depois vai melhorando cada pedaço e sentindo o todo. Assim, à medida que avançamos cada camada de cor e detalhes aplicados, o desenho vai fazendo mais sentido e tomando mais volume e demandando nova rodada de ajustes e aprimoramento. As partes vão evoluindo mais ou menos no mesmo ritmo, sempre em conexão umas com as outras e em sintonia com o todo para ir ganhando cada vez mais vida.

Lições aprendidas (na arte e na vida)

Fixação causa cegueiras

Quando larguei minha visão fragmentada e excludente e parei de insistir em apenas um ponto, como se esse fosse o único a ser tratado, o processo destravou e passou a fluir livremente por todos os pontos envolvidos e pude ter uma visão mais ampla, integral e inclusiva.

Quem nunca ficou travado e empacado em algum problema qualquer da vida e se esqueceu de todo o resto?

Geralmente, esse comportamento não ajuda na solução do problema alvo de nosso foco e ainda acaba atraindo mais problemas. Isso ocorre porque na medida em que fixamos em um único detalhe, apenas em uma parte, nossa visão se estreita e nos cega para tudo o que não faz parte desse detalhe. Assim, os demais aspectos da vida são negligenciados enquanto estamos ocupados demais em resolver aquele ponto específico.

E, cá entre nós, quando nos apegamos fervorosamente a um desafio como se ele fosse o único de nossa vida e como se apenas isso fosse importante e não pudéssemos seguir a vida sem resolvê-lo, acabamos ficando cegos até mesmo para esta tarefa específica. Quem nunca ficou “dando murros em ponta de faca” em alguma questão? Quando isso acontece é sinal claro de que devemos respirar e dar um tempo naquilo e geralmente quando fazemos isso a solução parece pular para nós como mágica.

Controle, perfeccionismo e ansiedade – vilões já conhecidos

É natural querer solucionar alguma questão ou ver resultado em algum trabalho. Mas nosso controle e perfeccionismo nos impelem a nos cobrarmos resultados rápidos e controlar os tempos e contratempos, mantendo tudo em ordem e sob nosso domínio. Quando isso não acontece, somos desafiados profundamente e o ego que controla não aceita deixar nada em aberto, o ego perfeccionista não aceita soluções temporárias e possíveis – ele quer A solução definitiva -, o ego ansioso quer tudo isso logo e rápido para poder resolver as outras questões.

Isso tudo nos impede de desenvolver algumas virtudes importantíssimas para a vida (e para a arte): o jogo de cintura, a flexibilidade e a autocompaixão.

Exigimo-nos resultados. Mas não basta resultados, tem que ser o melhor resultado. Mas não basta um bom resultado, tem que ser também no melhor tempo . E, por vezes, esquecemos que não somos máquinas, mas sim humanos.

Modelos e referências x criatividade

Modelos e referências são importantes, principalmente para iniciantes (como eu), mas também são um desafio à criatividade. Há sempre o risco de ficarmos excessivamente presos à imagem modelo e nos tornarmos rígidos e rigorosos na reprodução fiel do modelo. Outro risco, que considero pior é o de alimentar ainda mais o perfeccionismo existente em nós e ter a criatividade sufocada. Invariavelmente, a consequência disso é frustração.

A criatividade precisa de espaço para se manifestar. Ela precisa de ambiente livre e, nesse sentido, ela precisa de certo jogo de cintura, certa flexibilidade (as mesmas já citadas).

Tudo se relaciona.

Posso dizer que o mesmo acontece na vida. É comum e saudável alimentar modelos e ideais próprios, desde que não nos tornemos prisioneiros deles, desde que eles sejam apenas referenciais a nos guiar e desde que preservamos liberdade, espaço, flexibilidade e criatividade para nos construirmos a cada momento. Até porque a gente vai se construindo, desconstruindo e reconstruindo a cada momento, em sintonia e harmonia com o Todo que nos cerca.

E nessa incessante criação, os modelos que nos serviam no passado podem hoje não nos servir mais. Então, fique livre e à vontade para abrir mão do que não serve mais para dar espaço ao novo.

Esse movimento não para.

Está tudo em eterna evolução.

Atente-se para não se fixar e se apegar a partes.

Não queira adiantar o processo.

Atente-se para a conexão de suas parte ao seu todo.

E de seu todo ao Todo que nos envolve.

Isso é arte.

Isso é vida.

Na aula de desenho

 

Arte finalizada e muitos aprendizados no processo

 

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