Postado por

17
dez
2023

Florescendo Consciência – Modelagem em biscuit

A modelagem e a relação com processos e resultados

Foi a minha 1ª vez modelando biscuit. Sempre tive curiosidade, mas nunca experimentei essa massa, embora morresse de amores pelos bonequinhos de biscuit que geralmente figuram os topos de bolo. É uma arte incrível e muito delicada. Mas minha experiência aqui não é sobre isso…

Essa pequenina escultura foi fruto de uma atividade do curso de Arteterapia, portanto, é sobre muito mais do que fazer coisas bonitas. É sobre experimentar, sentir as sensações, sentir as emoções, se permitir fazer mesmo sem saber o que fazer e como fazer. É sobre observar os pensamentos e comportamentos que aparecem durante a experiência…

É sobre apreciar o processo, mas também o resultado, mesmo que não tenha saído exatamente como imaginou, planejou e queria. Na vida, nem sempre as coisas saem como desejamos… E, mesmo que muitas vezes nos empenhemos ao máximo para que o resultado seja o esperado, às vezes ele vem diferente ou simplesmente não vem. Às vezes tudo sai exatamente do jeitinho que pensamos, mas às vezes não é bem assim… E o que fazer com isso, então?

Existem várias formas de lidar com os resultados… Algumas melhores e outras piores. Há quem não aceite, negue ou esperneie. Há quem, no auge da frustração, simplesmente desvalorize todo o processo e se desmereça. Há aqueles que se fragilizam e se vitimizam, achando que as piores coisas acontecem a eles e que nunca vai dar certo. Mas há, também, aqueles que consideram todo o processo e reconhecem pontos favoráveis e desfavoráveis do percurso. Estes, geralmente, procuram aprender com os resultados inesperados ou indesejados. Essas são apenas algumas das diversas formas de lidar com resultados inesperados. E aí? Identificou-se com alguma?

O resultado que importa

Mas, e o que o biscuit tem a ver com isso??? Ele, assim como qualquer arte, nos ensina a perceber os processos, a aceitar e atravessar dificuldades que aparecem e, principalmente, acolher o resultado final. Isso tudo é ainda mais potencializado quando vivenciamos a arte como um processo terapêutico.  O espaço para crescimento e desenvolvimento se dá quando somos capazes de nos relacionar com nossas próprias criações e todo o seu processo. Assim é na vida e assim é na arte.

O poder de desenvolvimento e amadurecimento proporcionado pela arte está para muito além da estética. Não se trata de deixar a massa lisinha, sem nenhuma ranhura, não se trata de fazer a forma perfeita e dar o melhor acabamento. Não se trata de reconhecimento alheio. Sim, a estética pode até ser desejável e agradável, mas está longe de ser o maior valor que podemos gerar através de nossas materializações artísticas.

A meu ver, a semente mais linda e potente que a arte pode germinar em nós é o conhecimento de si mesmo diante da vida e da arte. Esse é um excelente caminho para o florescimento de mudanças significativas e conscientes no olhar para si mesmo, um olhar mais empático e generoso consigo mesmo. Tem a ver com a capacidade de reconhecer valor nas próprias criações, por menores que sejam, e por mais distantes que estejam de nossas expectativas. Tem a ver com o deslocamento do reconhecimento alheio para o autorreconhecimento.

A modelagem e a capacidade de moldar nossas vidas

O processo de modelar pode dizer muito a respeito de como nós moldamos as nossas vidas. Quer ver?

O processo de manusear e sentir a massa, perceber sua textura, firmeza, maleabilidade e seu tempo de secagem é uma aproximação importante do material a ser trabalhado. Isso costuma acontecer na vida, quando estamos tendo contato com alguma área desconhecida. Geralmente, nos aproximamos do assunto, pesquisamos, assuntamos, procuramos perceber e sentir o terreno. Seria como um ensaio inicial.

Após a aproximação inicial do material, entramos em contato com nosso mundo interior para imaginar e sentir o que precisa ou quer se expressar. A partir disso, acessamos nossa capacidade de pensar como faremos para dar forma à fantasia que se apresenta. Esses movimentos também costumam acontecer na vida, quando entramos em contato com os nossos desejos e percebemos o que está pedindo para ser materializado. Daí, geralmente nos deparamos com a seguinte questão prática: “como farei para concretizar essa ideia? Que caminhos posso seguir para transformar a intenção em ação?”

Agora, resta a nós efetivamente trabalhar a massa para dar a forma que imaginamos. Pode até parecer a parte mais fácil, mas não é. Assim como todas as outras, tem suas dificuldades, pois precisamos fazer com os recursos que dispomos (sejam ferramentas e/ou habilidade). Nesse percurso, podemos sentir falta de ferramentas auxiliares e, muitas vezes, o único recurso que temos são apenas nossas próprias mãos. E é dessa forma que devemos seguir. Da mesma forma ocorre na vida, pois é muito provável sentir falta de mais recursos auxiliares ou habilidade para colocar em prática nossos planos. Mas, é preciso seguir, pois as dificuldades costumam estimular nosso potencial criativo, nos impulsionando a criar soluções alternativas inovadoras.

E depois que a arte fica pronta? Como nos relacionamos com ela? Isso também acontece na vida… Como nos relacionamos com o que construímos em nossas vidas?

O que a modelagem pode moldar em nós?

Modelar é dar forma, dar concretude e materialidade àquilo que se apresenta em nosso mundo abstrato. Trata-se de uma materialidade diferente da que ocorre nos desenhos, pinturas, colagens e demais modalidades expressivas bidimensionais. A modelagem proporciona volume e forma a objetos de nossa psique e, portanto, oferece uma outra perspectiva de relacionamento com essas personificações, em um plano tridimensional. Essa possibilidade de conexão entre mundo interior e exterior de forma mais concreta e palpável é incrível.

Dentre os muitos benefícios, destaco a ampliação da capacidade perceptiva e a capacidade de construir algo concreto a partir do nosso mundo imaginativo tão rico. Mas, sobretudo, a capacidade de nos tornarmos um eterno modelador de nossas vidas. Modelar requer atividade, no sentido de termos papel ativo e importante na construção de algo. Somos capazes de modelar nossas vidas, com os recursos e habilidades que temos. E isso não significa, de jeito nenhum, que devemos nos conformar com os recursos que temos. Somos também capazes de desenvolver recursos que nos possibilitem aprimorar a modelagem de nossas vidas.

“A modelagem no trabalho arteterapêutico ativa e intensifica processos de compreensão, devido ao grau de concretude das produções plásticas obtidas através desta linguagem, pois sua aparência é muito mais real que as experiências do plano bidimensional, em consequência do peso, volume, textura etc. (…) Esta concretude da produção propicia insights mais rápidos, estimula processos de autoconhecimento, em tempo e intensidade, nem sempre possíveis nas experiências expressivas do plano bidimensional.” Angela Philippini

Me conta aqui, no espaço de comentários abaixo, se você já teve alguma experiência desse tipo e como foi. E, se não teve, conta se ficou curiosa(o) para experimentar!

confira também

Posts relacionados

Deixe seu comentário

2 Comentários

  • Alaine
    17 dezembro, 2023

    “Um eterno modelador das nossas vidas” que Lindeza de produção e texto, sempre com reflexões tão especiais e profundas.

    • Maria Fernanda
      24 dezembro, 2023

      Ah amiga… Como é bom ter companhias como você nesses mergulhos profundos e retornos reflexivos… Obrigada!!!