Postado por

28
jun
2021

Tristeza

Máscara social

Qual máscara te convém?

Qual delas faz você se encaixar no mundo?

Como você se apresenta para o mundo?

Você veste a máscara mais adequada para cada situação?

Elas são trampolins ou escudos?

É possível enxergar através delas? Para além delas?

Elas são confortáveis? Entram e saem com facilidade? Ou elas apertam e custam a sair? Ou alguma já virou parte integrante da própria pele?

Você se reconhece sem suas máscaras?

 

 

Alegria

Persona

Sob a ótica da psicologia analítica

Persona é um conceito cunhado por Jung para designar um complexo funcional constituído e utilizado na adaptação ao mundo externo. Através dela desempenhamos diversos papéis sociais e assim vamos respondendo demandas externas. Dessa forma, ela tem a ver com a nossa relação com os objetos, com o mundo externo e a atitude externa, representando uma personalidade externa.

Essa necessidade de adaptação é real, necessária e de grande importância. Precisamos nos relacionar com o mundo exterior e desempenhar papéis sociais. Exercê-los e transitar entre eles é uma arte e reflete uma boa adaptação externa. Saber usar diferentes máscaras conforme pede cada ocasião é necessário. O grande problema ocorre quando a máscara adere tanto ao rosto que não conseguimos trocar a máscara de acordo com os cenários e não conseguimos nos despir dela.

Veja, um professor exerce seu papel de professor na sala de aula, mas quando ele está na sala de aula na posição de aluno, ele deve deixar seu papel de professor de lado e imbuir-se do papel do aluno. Assim como qualquer outro papel social que desempenhemos na vida, existe o ambiente e o momento específico para essa função.

Porém, nem sempre esse trânsito entre os diversos personagens é realizado. Você já conheceu alguma pessoa que exerce um cargo de poder no seu meio laboral e incorporou aquele personagem tão seriamente que exige o gozo de todo poder e privilégio em qualquer circunstância? Se não conhece, pelo menos conhece a famosa “carteirada”, ou então aquela pessoa que dorme e acorda misturada e fusionada a seus cargos e títulos.

A persona é um fenômeno importante e funcional, mas se torna disfuncional quando, ao invés de promover a adaptação com o mundo externo, provoca uma aderência exacerbada e se torna um obstáculo à vivência do mundo interior, provocando distanciamento da verdadeira individualidade.  Quando a identificação com a máscara é tão grande a ponto de não permitir o reconhecimento do próprio rosto (Ser), torna-se preocupante.

Embora a persona pareça remeter a uma individualidade, ela é mais coletiva do que pensamos. Jung nos diz na obra “O eu e o inconsciente” que ela nada tem de real, uma vez que

“representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que ‘alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo’. De certo modo, tais dados são reais; mas, em relação à individualidade essencial da pessoa, representam algo de secundário, uma vez que resultam de um compromisso no qual outros podem ter uma quota maior do que a do indivíduo em questão.”

Alma e o mundo interno

Apesar da real necessidade de adaptação ao mundo externo, não podemos nunca esquecer que existe um mundo interno que também exige adaptação. Ambos fazem parte de nós, ambos nos constroem e nos influenciam, embora de formas diferentes. Ambos devem ser considerados. Somos constituídos por dentro e fora. Adaptar-se a um lado e esquecer o outro não nos torna seres adaptados e saudáveis. Seria ter a força das duas pernas para nos manter em movimento e apoiar-nos apenas em uma delas. Seria uma adaptação manca, vacilante e incompleta, que não nos leva a toda nossa potência.

Jung nos diz que

“toda adaptação resulta de concessões aos dois mundos. Da consideração das exigências do mundo interno e do mundo externo, ou melhor, do conflito entre ambos, procederá o possível e o necessário.

Temos um mundo inteirinho dentro de nós a ser olhado e cuidado e que suplica atenção cada vez que nos distraímos demais com o mundo lá fora. Esse mundo interior é a nossa alma, nosso mundo íntimo e verdadeiramente individual. Enquanto a atitude externa e consciente relaciona-se com a persona, a atitude interna e inconsciente, nossa personalidade interna, relaciona-se com a alma. Jung diz que enquanto a persona é moldada pelo meio ambiente, a alma é moldada pelo inconsciente e suas qualidades.

Como tudo o que é inconsciente, a alma também tende a ser projetada. Por isso a necessidade de mergulhar nesse mundo, para sermos cada vez mais capazes de percebê-lo como genuinamente nosso e nos apropriar disso que também nos constitui (e não foi moldado pelo social). Quanto mais nos relacionamos com esse mundo, mais consciência levamos a seus aspectos, antes tão desconhecidos e negligenciados, e menos projeções são realizadas.

Isso exercita cada vez mais a nossa inteireza, afinal, a alma tem um caráter complementar ao externo. Segundo Jung,

“a alma costuma possuir todas aquelas qualidades humanas comuns que faltam à atitude consciente”.

Tudo o que falta na atitude externa pode ser encontrado na atitude interna. E, para encontrá-la, é necessário fazer esse mergulho no inconsciente.

O mundo interior também requer adaptação. Não é só ao chamado do mundo fora que devemos atender, mas também ao chamado do mundo dentro, nossa alma. E, nunca é muito lembrar: olhar demasiadamente para fora faz esquecer o que há dentro.

Portanto, eu digo: vá além das máscaras! Mergulhe fundo…

Inteireza

Fontes bibliográficas:

Jung, C. G. “O eu e o inconsciente” [OC, 7/2]

Jung, C. G. “Tipos psicológicos” [OC, 6]

Sobre a arte:

Realizada com aquarela, lápis de cor, enfeites porpurinados em formatos especiais e lantejoulas.

Composição da foto: decoração com os dois lápis de cor usados e lantejoulas.

 

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2 Comentários

  • Wanessa
    28 junho, 2021

    textos lindos e sensíveis como vc amiga!

    • Maria Fernanda
      19 setembro, 2021

      Obrigada, minha amiga! Fico feliz por apreciar! 💗