Postado por

24
nov
2020

Sabe aquela criança encantada e excitada diante de infinitas bolhas de sabão que flutuam, brilham e dançam com o vento? Sou eu diante do meu mundo interno de ideias, imaginações, paixões e fantasias! Um mundo de ideias flutuantes!

As ideias borbulham, se multiplicam e voam ao sabor do vento e eu fico como uma criança a observar encantada e viajar com cada uma… Elas não param de se multiplicar e, de repente, são tantas que me circundam…! Quero admirar todas em detalhes, embarcar em cada percurso e, ao mesmo tempo, tocar e experimentar todas! E aí vem aquele alvoroço, ansiedade e excitação para capturá-las uma a uma e, de repente… PUFT!!! Somem e se desfazem no ar… Ou voam tão longe que já não estão ao meu alcance! 

Meu mundo interior hipnotiza que nem bolha de sabão (rs). É um mundo de diversidade, de criatividade flutuante e borbulhante, de fascinação e brilho.  Mas também é tão sutil, tão leve, que voa longe com o ar e se dispersa com grande facilidade. Eu não sei de onde tudo isso brota… Mas sei que quando a mente racional e controladora entra em cena e quer reter todas as “bolhas de sabão”, a cena poética e refrescante é capaz de se transformar em bolhas de água fervente! 

A mente sem controle que quer manter tudo sob controle, sem deixar nada para trás é terrível. Assim, a leveza de infinitas possibilidades ganha o peso da cobrança de uma lista de obrigações. Nesse cenário a matemática não fecha. O universo criativo fértil se multiplica muito mais rapidamente do que a capacidade de execução, ao menos para uma pessoa comum que se envolve em outras atividades comuns do cotidiano.

A grande verdade é que o mundo de ideias, fantasias e imaginação não exige muitos esforços… É muito fácil ser atraído por ele e fazer mergulhos longos e profundos nesse lugar magnetizante. O difícil, geralmente, é querer sair dele… Pode virar um buraco sem fundo! Existe uma grande discrepância entre esse mundo interior e o mundo prático. Enquanto um é sedutor e envolvente, o outro parece seco e árido, enquanto um é colorido e brilhante, o outro parece um preto e branco entediante. Essa é uma das dificuldades de uma pessoa imaginativa e sonhadora (e eu me enquadro nisso).

“Criatividade é inteligência, divertindo-se.” (Albert Einstein)

Para pessoas desse tipo, viver a realidade pode ser muito chato ou duro. E o grande desafio passa a ser encontrar também algum brilho na vida prática e concreta do dia a dia. É preciso transformar algo da rotina em sagrado e ritualístico, se for o caso, ou até mesmo encontrar graça, leveza e fantasia também nesse espaço diário tão importante. O mundo prático é necessário, ele é nossa base firme onde precisamos todos nos aterrar. É preciso saber manter passos firmes também. É preciso aprender a equilibrar as habilidades de flutuar e de ancorar.

Além disso, uma das grandes dificuldades de quem vive bailando no ar como bolha de sabão pode ser, também, trazer esse mundo rico e fantástico para a realidade. É o desafio de dar forma a esse mundo, transformar todo esse elemento sutil, aéreo e fugidio em terra firme, materializá-lo, concretizá-lo. É claro que, para pessoas desse tipo, ficar no mundo abstrato é muito mais fácil, pois inspiração não exige esforço, ao passo que colocar esse mundo em prática requer certa dose de esforço e transpiração. Canalizar toda essa energia em movimento para algo sólido, firme e palpável exige paciência, dedicação e disciplina (características pouco presentes em tipos mais fantasiosos – rs).

Sabemos que, nesses casos, estar dentro de si é o que é confortável e cômodo e, portanto, o grande desafio é justamente sair dessa zona de conforto, ir para fora e criar a partir desse mundo fértil. Afinal, de que adianta tanta fertilidade se ela for improdutiva? O valor da criatividade não está nela em si mesma, mas sim na capacidade de criar, produzir, desenvolver, gerar algo com isso, dar forma e fazer essa energia existir no mundo e não apenas dentro de si. Esse é o verdadeiro poder da criatividade e da criação. É a interação com o mundo! 

Não há nada de mal nas bolhas de sabão. Absolutamente não! É legítimo e até muito positivo arejar a mente e borbulhar ideias e imaginação feito bolhas de sabão. Saber apreciar e valorizar isso é importante, mas é preciso saber, também, o momento de deixar o encantamento com as bolhas de sabão e se dedicar no preparo da terra fértil e firme para receber sementes de ideias. Assim, é possível evitar a dispersão e distração de toda essa riqueza e potencialidade que se perde fácil pelo ar, enquanto bolhas de sabão.

Ao descansar e ser acolhida e nutrida pela terra, naturalmente as sementes se enraizarão, crescerão e darão frutos, expressando e realizando toda sua potencialidade. Mas não se alvoroce! Saiba que essa empreitada leva tempo e exige dedicação, paciência e devoção. Apenas cuide disso com amor. De rega em rega toda a força da semente se rompe e se transforma.

“A criação de algo novo é consumado pelo intelecto, mas despertado pelo instinto de uma necessidade pessoal. A mente criativa age sobre algo que ela ama.” (Carl Gustav Jung)

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2 Comentários

  • Flávia
    24 novembro, 2020

    Que coisa mais linda esse texto…
    Um dos textos mais lindos que você já escreveu, na minha opinião.
    Lúdico, leve, ao mesmo tempo hipnotizante… Como uma bolha de sabão.
    Eu me identifiquei demais…
    Você coloca sim em prática muitos dos seus talentos, com constância e sensibilidade ímpar. Esse blog é um exemplo disso e esse texto um presente! ♥️

    • Maria Fernanda
      12 janeiro, 2021

      Obrigada! Fico muito feliz por ter apreciado.
      Enquanto eu fazia pensei diversas vezes em você porque eu sei desse nosso traço em comum e eu adoro poder compartilhar e admirar bolhas com você! E são sempre muito mais do que bolhas que se dispersam no ar… São sementes preciosas! Que sempre germinam!
      Sou muito feliz de poder trocar com você.