Postado por

08
out
2020

Pantanal em chamas

um protesto poético

O verde virou cinza

A água secou

A terra fértil virou deserto

O ar que curava agora é fumaça que sufoca

 

Os animais que corriam livres passaram a correr para fugir

A riqueza deu lugar à destruição

A beleza deu lugar à tristeza

Como pode tanta vida virar morte?

 

O fogo não pede licença

O fogo invade e domina

Há que se ter cuidado para com essa força se meter

A ganância e ignorância do homem queima e faz arder

 

O Pantanal luta para resistir

E enquanto o mundo faz chorar

Os ignorantes fazem rir

 

Onça pintada em aquarela

O contexto

O contexto que inspirou o desenho e o poema foi o grave período de queimadas que atingiu o Pantanal e arredores em 2020. Foi a pior queimada de todos os tempos, se alastrou fácil e muito rapidamente. Infelizmente matou muitos animais e deixou o cenário irreconhecível.

Está evidente que as queimadas tem forte relação com o desmatamento e é lastimável que um país com uma natureza tão rica e abundante como a nossa não seja capaz de protegê-la. Esse é só mais um dos acontecimentos históricos de 2020… As cenas foram de cortar o coração e de se revoltar também…

A onça pintada

Escolhi a onça pintada por ser um dos símbolos do Pantanal. Ela foi pintada em aquarela e, tecnicamente, não está das melhores, mas foi um grande desafio… É uma figura complexa, com muitas tonalidades, o papel não suporta camadas e a pouca habilidade não permite poupá-lo de tanta tinta e água.

Processos artísticos são não só desafiadores, mas REVELADORES.

Eles mostram muito sobre nossas resistências, nossos medos, nossa segurança (ou insegurança), nosso modo de agir na vida, nossos apegos, nossa tolerância a frustração, nossa posição diante de mudanças.

Essa não foi minha primeira onça. A primeira eu parei depois da 1ª camada de tinta. Não desisti, mas senti necessidade de fazer uma menor para me permitir mais agilidade na pintura. Antes de desenhar a 1ª onça eu duvidei de mim, achei que seria complexo demais, resisti e me propus malandramente qualquer coisa que fosse mais fácil. Mas, como eu tinha um propósito com ela – o meu protesto, insisti. Quebrei a inércia (o mais difícil) e encarei.

Fui fazendo e cada vez mais me sentindo à vontade e gostando do processo. Traça aqui, traça ali, apaga aqui, ajusta ali… Cada vez que evoluía, mais me sentia segura. E eis que surgiu a minha 1ª onça pintada. Ou melhor, uma etapa dela, apenas em lápis graduado. Depois do rascunho a lápis gostei tanto que fiquei com medo e peninha de pintar. “Já tá tão bonita, e se eu estragar tudo?” Me apeguei e fiquei com medo da frustração que seria se eu a estragasse na pintura. Passar para a etapa da pintura foi a tarefa mais difícil.

É tão mais fácil quando está tudo no lápis e você pode apagar e corrigir qualquer traçado fora do prumo… No desenho e na vida, né?! 

Quantas vezes a gente não se pega arriscando várias coisas, mas na hora que é pra valer dá um medo, bate uma insegurança, a gente fica querendo buscar garantias e, na verdade, NÃO EXISTE! A gente só vai saber se enfrentar o medo dos erros que não têm borracha para apagar.

E se a pintura desandar? E se a vida desandar? Se já não tiver borracha para apagar, certamente vai ser mais um aprendizado, mais um resultado da vida. E se não der para apagar e corrigir, voltar atrás e consertar, o remédio é só um: buscar aprender com o que não foi muito bom e voltar a fazer, voltar a viver. Olhar dali para frente! E só se aprende arriscando, errando, acertando, FAZENDO, VIVENDO!

Assim como só aprendemos a viver vivendo, só aprendemos a pintar pintando…! Sem se arriscar e se permitir borrar e estragar tudo não há como viver por inteiro…

 

 

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